sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Entre a Razão e a Emoção

Este provavelmente será o último post de 2007, então aproveito para falar de três livros que li ou reli este ano. A leitura desses livros me levou a traçar um paralelo quanto ao que eles abordavam. “Design Gráfico Cambiante”, “Razão e Sensibilidade no Texto Publicitário” e “Lovemarks” tratam de certa forma do choque entre razão e emoção, seja no design, na publicidade ou no marketing.

“Lovemarks” propõe um consumo além da razão. A relação entre produto e consumidor deveria ser ampliada de forma que a escolha de uma marca não fosse mais racional. As escolhas deveriam ser mais pelas emoções provocadas pelo uso de um produto ou serviço do que pelas necessidades que ele sacia. Se formos consultar o código de defesa do consumidor brasileiro provavelmente encontraremos respaldo para questionar esta forma de consumo. Além disso “Lovemarks” peca por não ter embasamento acadêmico e não analisa o impacto negativo do que propõe. Apesar disso, seu autor, Kevin Roberts, traz questões interessantes como pensar melhor a experiência do consumidor com o produto e o valor simbólico que todo objeto tem para o consumidor. Mas isso deveria ser tratado com mais cuidado.

“Razão e Sensibilidade no Texto Publicitário” já é um texto mais acadêmico. João Anzanello Carrascoza, autor do livro, é professor em faculdades de comunicação, mas também tem a experiência no mundo profissional como redator publicitário. Nesse livro, nos é apresentado dois tipos de textos publicitários: o apolíneo e o dionisíaco. O primeiro é típico do início da publicidade, mas ainda muito utilizado. Suas características são a objetividade e o apelo racional. O texto apolíneo descreve o produto e suas funcionalidades. Já o segundo é um texto mais emotivo que envolve o leitor e conta uma história. Mas o autor não fica paralisado nessa dicotomia. Ele analisa e demonstra que existe uma forma amalgama desses dois tipos de texto. Um tipo de texto misto, que pode ser hora sedutor e emotivo, hora racional e objetivo. Além disso, Carrascoza não é maniqueísta, afirma que não existe um tipo de texto melhor do que outro. Na verdade existem situações ideais para uso de um ou outro tipo de texto.

Por fim, “Design Gráfico Cambiante” tem mais semelhanças com “Razão e Sensibilidade” do que com “Lovemarks”. Seu autor, Rodnei Kropp, também é um acadêmico com passagens pela iniciativa privada que propõe uma analise nada maniqueísta dos dois tipos de design gráfico que ele apresenta. O texto também prima pela descrição histórica do design gráfico do século XIX até o XXI. Primeiramente ele apresenta o Design Gráfico Moderno com seu apelo pelo funcional e a busca por teorias que o dê suporte. Depois Kropp descreve um outro tipo de design, pós-moderno. Um design que quebra as teorias e os padrões da alta-modernidade, cheio de ruídos e de desordem. Mas assim como em “Razão e Sensibilidade”, o autor propõe a existência de um design mutante, pós-moderno algumas vezes, moderno em outras. É o Design Gráfico Cambiante que varia sua forma e conteúdo conforme as necessidades.

Ao ler esses livros senti um pouco o espírito de nossa época. Seja no design gráfico, no marketing ou na publicidade, estamos à procura de formas mutantes, funcionais quando devem ser, emotivas e expressivas quando forem necessárias. Não sei afirmar se o pós-moderno já passou, mas ele já deixou marcas. Mas as outras marcas, da padronização e do respaldo acadêmico do modernismo também não foram totalmente apagadas. Vamos então em busca do caminho do meio, uma emoção que não seja irracional e nem manipuladora, uma razão que não seja chata e nem cansativa.

E feliz 2008!